Segue o recorte do jornal "Notícias da Covilhã", que na época noticiou assim a inauguração da Igreja:
NO BAIRRO DOS PENEDOS ALTOS
“ Para o corpo as chaminés das vossas fábricas que se erguem por essa
cidade fora;
para a alma tendes aqui a torre altaneira e branca desta igreja
convidando-vos à oração ”
disse o Sr. Bispo Coadjutor aos moradores do Bairro
Os foguetes estralejando no ar anunciaram o início da festa no Bairro dos Penedos Altos. Um sol esplendoroso e lindo deu vida ao domingo passado cheio de luz e cor a que o astro rei imprimiu uma beleza primaveril apesar da quadra outonal que atravessamos. O bairro despertou com ares de festa.
É sempre um motivo de alegria a
inauguração dum melhoramento público. A bênção e abertura da nova igreja dos
Penedos Altos, sob a invocação de S. José foi, por essa razão um dia de festa,
de movimento desusado para os moradores do alegre bairro.
Assim, às 9 horas da manhã
acompanhando as crianças da escola o povo organizou-se em cortejo para ir
receber ao fundo do bairro o Venerado Prelado Coadjutor Sr. D. Domingos Silva
Gonçalves, que chegou a este local às 9.15, sendo ali aguardado pelo Snr.
Presidente da Câmara, Snr.s Comandante Militar e da PSP, Snr. Eng. Rafael
Costa, o nosso director, o director do “Zêzere” e vários presidentes das Juntas
de Freguesia.
Os nossos rapazes escutas esperavam
ali o Sr. Bispo ao qual prestaram as suas saudações e honras do estilo. Pouco
depois chegou Mons. Pereira Sêco, Dig.mo Arcipreste da Covilhã.
Quando S. Exª Rv.ma
chegou junto do povo foi recebido com uma vibrante e apoteótica salva de
palmas, enquanto no ar estrugiam alguns foguetes anunciando a chegada de tão
ilustre convidado.
Após os cumprimentos organizou-se
um cortejo que era precedido pelas crianças escolares.
Chegados à nova igreja o Snr. D.
Domingos paramentado procedeu à bênção do templo começando pelo exterior.
Cerimónia singela que tem no
entanto um alto simbolismo.
Segue-se a bênção do interior e
após esta cantam-se, à entrada do templo completamente desnudado, as ladainhas
de todos os Santos. Só depois se podem acender as velas e colocar as flores e
imagens no altar.
Entretanto aproximam-se as 10 horas
e no largo fronteiriço tudo estava preparado para a recepção ao Chefe do
Distrito, Dr. José de Carvalho que minutos depois chegou ao local. Aguardavam
aquele membro do Governo a corporação dos Bombeiros Voluntários, os grupos do
C.N.E. e a Mocidade Portuguesa. A Banda da Covilhã depois dos acordes da Maria
da Fonte, tocou uma marcha militar.
À porta do templo o Sr. Dr. José de
Carvalho era aguardado pelas dignidades eclesiásticas já referidas, trocando-se
ali mesmo amistosas palavras de saudação. O Sr. Bispo Coadjutor, ao falar
dirigiu ao Governo Nacional, nomeadamente aos Srs. Ministros das Obras Públicas
e ao das Corporações, os agradecimentos não só do clero, mas de todos os
moradores daquele bairro. Disse que era para nós uma glória termos governantes
que compreendem as necessidades da época e procuram dar ao mesmo tempo com o conforto
para o corpo o amparo para a alma. Leu depois o seguinte telegrama por ele
enviado ao Sr. Ministro das Obras Públicas, saudando-o e agradecendo-lhe a
construção daquela Igreja:
Excelentíssimo Ministro das Obras Publicas – Lisboa
Inauguração solene Igreja Bairro
Penedos Altos não podemos deixar saudar Vossa Excelência grande generosidade
patriótica dedicação pedindo nossas orações vossa preciosa vida
Bispo Coadjutor Guarda
Dirigindo-se aos moradores do bairro fala-lhes da grande dádiva que constituía para eles a inauguração daquela Igreja que o Governo ali mandara construir no meio das casas que garantiam a todos o conforto material. Saudou ainda o presidente do município ao qual agradeceu a boa vontade sempre manifestada no sentido de acelerar o acabamento do templo.
Quando o Sr. Bispo acabou de falar
fez-se a entrada na igreja ficando ainda muitíssima gente fora.
Nos lugares reservados às
autoridades vimos ainda além das já referidas, os senhores, Director da Escola
Industrial e Comercial de Campos Melo, o Reitor do Liceu, Comandantes dos
Bombeiros, Escutas e M.P., o delegado e Sub-Delegado do I.N.T.P., Presidente da
direcção do A.I.T..
Iniciou-se então a missa solene
celebrada pelo Rev.o Pe Mário José Gomes, que fica a pastorear aquela
freguesia. Cantou o Grupo Sacro do Orfeão da Covilhã, sob a proficiente regência do Sr. António Nobre, acompanhado a órgão tocado pelo Rev.o
Pe Bernardo, regente do Orfeão do seminário do Fundão. As vozes másculas
daquelas três dezenas de rapazes imprimiram ao acto uma solenidade
inconfundível.
Ao evangelho o Sr. D. Domingos
falou novamente. Diz da sua alegria por estar ali e refere-se ao facto de
aquela festa coincidir com a dedicação da Sé da Guarda. Referiu-se a S. José,
modelo dos operários e exortou a todos a imitarem as suas virtudes.
A Santa Missa continuou entre o
mesmo respeito e silêncio como até ali. A comunhão foi numerosa.
No final da Santa Missa o Rev.o
Pe Mário José Gomes dirigiu aos fiéis uma breve alocução de cumprimentos.
Na Sacristia aquele sacerdote foi
depois cumprimentado pelas autoridades e outras pessoas presentes.
Na parte da tarde foi rezado o
terço seguido de pregação pelo Rev.o Pe Felício da Congregação do
Espírito Santo. Após o canto de Magnificat em acção de graças foi dada a bênção
solene do Santíssimo Sacramento.
E a festa terminou assim tal como
tinha começado puramente espiritual.
Agora resta que os habitantes do
bairro compreendam o benefício de terem ali um sacerdote que tratará
exclusivamente das suas necessidades espirituais. Compreendendo-o ajudem a
manter o pároco que agora possuem, pagando prontamente a côngrua paroquial,
contribuindo para as despesas do culto conforme determina a igreja e assistam
aos actos religiosos sempre que estes se realizem.
A sua vida passará a ser uma
actividade paroquial com festas próprias e actos de culto só seus. Por isso
terão de ser os católicos que residam naquela área que deverão concorrer e
assistir a eles. Isso compete aos habitantes não só do bairro dos Penedos
Altos, como também aos dos bairros de S. Vicente de Paulo.
A.
B.
22 de Outubro de 1950
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