Igreja de S. José


A Igreja de São José, construída durante os anos 40, foi benzida e inaugurada a 22 de Outubro de 1950 pelo então Bispo Auxiliar da Guarda, D. Domingos da Silva Gonçalves. Tem como Santo Padroeiro S. José. A Igreja foi construída em alvenaria de pedra granítica, possui nave única e tecto revestido a madeira. O altar-mor possui a imagem de Cristo Crucificado ladeado pelas imagens do Sagrado Coração de Jesus e do Sagrado Coração de Maria. A imagem do patrono, S. José, encontra-se no lado esquerdo e à direita a Pia Baptismal e um painel de azulejos evocativos do Baptismo de Jesus e do Poço de Jacob.
Segue o recorte do jornal "Notícias da Covilhã", que na época noticiou assim a inauguração da Igreja:




NO BAIRRO DOS PENEDOS ALTOS

“ Para o corpo as chaminés das vossas fábricas que se erguem por essa cidade fora;
para a alma tendes aqui a torre altaneira e branca desta igreja convidando-vos à oração ”
disse o Sr. Bispo Coadjutor aos moradores do Bairro


Os foguetes estralejando no ar anunciaram o início da festa no Bairro dos Penedos Altos. Um sol esplendoroso e lindo deu vida ao domingo passado cheio de luz e cor a que o astro rei imprimiu uma beleza primaveril apesar da quadra outonal que atravessamos. O bairro despertou com ares de festa.
É sempre um motivo de alegria a inauguração dum melhoramento público. A bênção e abertura da nova igreja dos Penedos Altos, sob a invocação de S. José foi, por essa razão um dia de festa, de movimento desusado para os moradores do alegre bairro.
Assim, às 9 horas da manhã acompanhando as crianças da escola o povo organizou-se em cortejo para ir receber ao fundo do bairro o Venerado Prelado Coadjutor Sr. D. Domingos Silva Gonçalves, que chegou a este local às 9.15, sendo ali aguardado pelo Snr. Presidente da Câmara, Snr.s Comandante Militar e da PSP, Snr. Eng. Rafael Costa, o nosso director, o director do “Zêzere” e vários presidentes das Juntas de Freguesia.
Os nossos rapazes escutas esperavam ali o Sr. Bispo ao qual prestaram as suas saudações e honras do estilo. Pouco depois chegou Mons. Pereira Sêco, Dig.mo Arcipreste da Covilhã.
Quando S. Exª Rv.ma chegou junto do povo foi recebido com uma vibrante e apoteótica salva de palmas, enquanto no ar estrugiam alguns foguetes anunciando a chegada de tão ilustre convidado.
Após os cumprimentos organizou-se um cortejo que era precedido pelas crianças escolares.
Chegados à nova igreja o Snr. D. Domingos paramentado procedeu à bênção do templo começando pelo exterior.
Cerimónia singela que tem no entanto um alto simbolismo.
Segue-se a bênção do interior e após esta cantam-se, à entrada do templo completamente desnudado, as ladainhas de todos os Santos. Só depois se podem acender as velas e colocar as flores e imagens no altar.
Entretanto aproximam-se as 10 horas e no largo fronteiriço tudo estava preparado para a recepção ao Chefe do Distrito, Dr. José de Carvalho que minutos depois chegou ao local. Aguardavam aquele membro do Governo a corporação dos Bombeiros Voluntários, os grupos do C.N.E. e a Mocidade Portuguesa. A Banda da Covilhã depois dos acordes da Maria da Fonte, tocou uma marcha militar.
À porta do templo o Sr. Dr. José de Carvalho era aguardado pelas dignidades eclesiásticas já referidas, trocando-se ali mesmo amistosas palavras de saudação. O Sr. Bispo Coadjutor, ao falar dirigiu ao Governo Nacional, nomeadamente aos Srs. Ministros das Obras Públicas e ao das Corporações, os agradecimentos não só do clero, mas de todos os moradores daquele bairro. Disse que era para nós uma glória termos governantes que compreendem as necessidades da época e procuram dar ao mesmo tempo com o conforto para o corpo o amparo para a alma. Leu depois o seguinte telegrama por ele enviado ao Sr. Ministro das Obras Públicas, saudando-o e agradecendo-lhe a construção daquela Igreja:


Excelentíssimo Ministro das Obras Publicas – Lisboa
Inauguração solene Igreja Bairro Penedos Altos não podemos deixar saudar Vossa Excelência grande generosidade patriótica dedicação pedindo nossas orações vossa preciosa vida
Bispo Coadjutor Guarda


Dirigindo-se aos moradores do bairro fala-lhes da grande dádiva que constituía para eles a inauguração daquela Igreja que o Governo ali mandara construir no meio das casas que garantiam a todos o conforto material. Saudou ainda o presidente do município ao qual agradeceu a boa vontade sempre manifestada no sentido de acelerar o acabamento do templo.
Quando o Sr. Bispo acabou de falar fez-se a entrada na igreja ficando ainda muitíssima gente fora.
Nos lugares reservados às autoridades vimos ainda além das já referidas, os senhores, Director da Escola Industrial e Comercial de Campos Melo, o Reitor do Liceu, Comandantes dos Bombeiros, Escutas e M.P., o delegado e Sub-Delegado do I.N.T.P., Presidente da direcção do A.I.T..
Iniciou-se então a missa solene celebrada pelo Rev.o Pe Mário José Gomes, que fica a pastorear aquela freguesia. Cantou o Grupo Sacro do Orfeão da Covilhã, sob a proficiente regência do Sr. António Nobre, acompanhado a órgão tocado pelo Rev.o Pe Bernardo, regente do Orfeão do seminário do Fundão. As vozes másculas daquelas três dezenas de rapazes imprimiram ao acto uma solenidade inconfundível.
Ao evangelho o Sr. D. Domingos falou novamente. Diz da sua alegria por estar ali e refere-se ao facto de aquela festa coincidir com a dedicação da Sé da Guarda. Referiu-se a S. José, modelo dos operários e exortou a todos a imitarem as suas virtudes.
A Santa Missa continuou entre o mesmo respeito e silêncio como até ali. A comunhão foi numerosa.
No final da Santa Missa o Rev.o Pe Mário José Gomes dirigiu aos fiéis uma breve alocução de cumprimentos.
Na Sacristia aquele sacerdote foi depois cumprimentado pelas autoridades e outras pessoas presentes.
Na parte da tarde foi rezado o terço seguido de pregação pelo Rev.o Pe Felício da Congregação do Espírito Santo. Após o canto de Magnificat em acção de graças foi dada a bênção solene do Santíssimo Sacramento.
E a festa terminou assim tal como tinha começado puramente espiritual.
Agora resta que os habitantes do bairro compreendam o benefício de terem ali um sacerdote que tratará exclusivamente das suas necessidades espirituais. Compreendendo-o ajudem a manter o pároco que agora possuem, pagando prontamente a côngrua paroquial, contribuindo para as despesas do culto conforme determina a igreja e assistam aos actos religiosos sempre que estes se realizem.
A sua vida passará a ser uma actividade paroquial com festas próprias e actos de culto só seus. Por isso terão de ser os católicos que residam naquela área que deverão concorrer e assistir a eles. Isso compete aos habitantes não só do bairro dos Penedos Altos, como também aos dos bairros de S. Vicente de Paulo.
A.   B.
22 de Outubro de 1950

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